Bairro do Sobreiro
Um retrato da sua existência
Construído no final da década de 70, o Bairro do Sobreiro veio mudar a vida de centenas de famílias que procuravam por uma nova habitação. Localizado no conselho da Maia, a sua estrutura inicial era composta por 666 apartamentos, divididos em 66 blocos de 4 pisos, e 4 torres orientadas no centro do empreendimento. Com o decorrer dos anos, as escassas intervenções por parte do municipio, contribuiram para uma degradação substancial das suas habitações, e de todo o espaço envolvente. Durante a década de 90, foi particularmente debilitado pelo tráfico de droga, afectando um grande número de famílias de forma irreversivel, enquanto a propagação de estupefacientes tomava o seu curso. Ao passo que a Maia continuava a evoluir, o bairro permaneceu como um lugar estanque e abandonado. Outros bairros no país seguiam contornos similares, concluindo-se de que a aposta em grandes aglomerados habitacionais não era a mais consensual. Nesse sentido, a autarquia avançou com um processo faseado de demolições que afectou 19 blocos, reduzindo significativamente o seu raio de ocupação. Em 2007, um contrato de aquisição (por parte de um grupo espanhol) iria acelarar o processo de demolição, mas a crise acabou por ditar o seu cancelamento, e o assunto voltou às mãos da autarquia. Durante o impasse, surgiu um novo plano de requalificação urbanístico apoiado por fundos comunitários, que acabou por reanimar um bairro quase-extinto. O projecto não se ficou apenas pela renovação das habitações, criou também uma nova ordenação dos espaços adjacentes, construiu novos arruamentos, hortas comunitárias, jardins e ciclovias que conferem um ambiente moderno e funcional. O Centro Comunitário, que teve um papel fundamental junto desta população, terá também um novo edifício para dar continuidade aos seus programas culturais e interventivos. Esta renovação traz um novo alento aos seus residentes, que durante décadas se sentiram ignorados pelo seu conselho. Actualmente, o Sobreiro respira uma imagem completamente renovada, que finalmente o coloca em linha de desenvolvimento com o conselho da Maia. Apesar de tudo, é um lugar com as suas complexidades, e existem problemas que não se encontram nas estruturas físicas, mas que permanecem enrraizados nos comportamentos e hábitos inconsequentes de alguns. Resta saber se este esforço, será devidamente apreciado e cuidado por todos os seus intervenientes.
O meu interesse em documentar o bairro através da fotografia foi acontecendo de forma gradual. Pretendia acima de tudo, fotografar o seu estado antigo que representava um vestígio nostálgico da minha infância. Posteriormente, quando as intervenções se iniciaram, acabei por aproveitar o lanço e continuei a acumular centenas de fotos. O resultado é um registo de fragmentos que remontam a meados de 2010. Espero que este retrato ajude a desmistificar a gente que aqui mora, que não são todos farinha do mesmo saco, pois se cada um pode pensar por si, pode também construir o seu próprio mundo e suas ideologias. Este trabalho, é também uma forma de agradecimento por todos os que participaram, e um retrato sincero do meu próprio percurso pelo mítico Bairro do Sobreiro.